- O Brasil tem mais de 60 aeroportos. Só 10 dão lucro: Congonhas, Santos Dumont, Guarulhos, Campinas, Confins, Manaus, Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre. Os demais são deficitários. Mas o País precisa de aeroportos de norte a sul, por necessidade de comunicação e de segurança nacional. Quem vai querer os deficitários? Quem vai ficar com Tefé?
Já avisei ao ministro Jobim. Sou a favor de abrir o capital da Infraero até 49%, como a Petrobras. Mas, se quiserem privatizar, vender, chamem outro.
Sebastião Nery
O trecho acima foi destacado do artigo do Sebastião Nery, publicado em um dos nossos Blogs, em
13 de novembro de 2008
A matéria referida é do seguinte teor:O revólver do almirante (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa)
Alto, desengonçado, mal ajeitado, um dos melhores repórteres da história da imprensa mineira, Felipe Henriot Drummond chegou à porta da suíte presidencial do Hotel Financial, em Belo Horizonte. Dois seguranças de preto e mal encarados pediram os documentos. Felipe mostrou a carteira do "Estado de Minas". Aprovada. Tocou a campainha.
A porta abriu e lá de dentro uma voz esganiçada gritou: "Entre"! Felipe entrou. Não viu ninguém. Atrás da porta, um homem baixinho, fardado, apontava um revólver para as costas dele:
- Sente-se ali. Por que chegou antes, se a entrevista é às 12 horas?
Felipe não sabia se dava uma risada ou ia embora. Daí a pouco, fomos chegando nós, outros jornalistas, para a entrevista coletiva do almirante Penna Botto, presidente da Cruzada Brasileira Anticomunista, que foi a Minas fazer campanha contra a posse de Juscelino e João Goulart na presidência da República, eleitos dias antes, em 3 de outubro de 55.
Penna Boto
Logo no dia 5, Penna Boto tinha dado entrevista ao "Globo":
"É indispensável impedir que Juscelino e Goulart tomem posse dos cargos para que foram indevidamente eleitos".
A entrevista a nós foi uma palhaçada. O atarracado almirante queria nos convencer de que o Partido Comunista estava criando um "soviet" no Triângulo Mineiro, que iria instalar-se logo que JK tomasse posse.
Não houve "soviet", mas por pouco não houve a posse. Nas redações, passávamos madrugadas agarrados às rádios do Rio, que transmitiam a crise ininterruptamente. Até que o presidente Café Filho teve (ou fingiu) um infarto, passou o governo para o presidente da Câmara, Carlos Luz, víbora gorda do PSD mineiro, que, no dia 10 de novembro, demitiu do Ministério da Guerra o marechal Lott, vermelhão, olho azul, mais Caxias do que Caxias, e o substituiu pelo general udenista-golpista Fiúza de Castro, numa ação articulada para impedir a posse de Juscelino e Jango.
Juscelino
De madrugada, Lott e Denis, comandante do 1º Exército, fizeram o "11 de novembro" (terça fez 53 anos), "retorno aos quadros constitucionais vigentes": puseram os tanques na rua, a Câmara votou o impeachment de Carlos Luz e entregou o governo ao presidente do Senado, Nereu Ramos.
Em Minas, quando a noticia chegou ao amanhecer, corremos para o Palácio da Liberdade. Juscelino, presidente eleito, já estava lá, trancado com seu vice, o governador Clovis Salgado, e o comandante da região, general Jaime de Almeida. Os dois tentaram de todo jeito segurar Juscelino, mas ele resolveu ir de qualquer forma para o Rio. Abre-se a porta e ele sai:
- Bom-dia, vocês já aqui? Vou agora mesmo para o Rio.
- Mas, presidente, há notícias de que a Aeronáutica está ao lado de Carlos Luz, que foi para Santos com Lacerda no "Tamandaré", comandado pelo Penna Boto, e o brigadeiro Eduardo Gomes já chegou lá para tentar a resistência com a cobertura do governador Jânio Quadros. Como é que o senhor vai descer no Santos Dumont ou no Galeão? Derrubam o avião.
- Já discutimos tudo, eu, o governador e o general. Eles estão contra, mas a decisão é minha e já a tomei. Vou a qualquer risco.
Carlos Luz
Entrou em um carro e disparou para o aeroporto. Fomos atrás, repórteres e fotógrafos. Lá, uma cena dramática. Juscelino dava ordens, aos gritos, a João Milton Prates e outro piloto, queridos amigos seus, para levantarem vôo em um pequeno avião particular. Mas havia uma ordem definitiva da Aeronáutica: ninguém podia decolar.
Impedido, encostou os dois cotovelos no balcão do aeroporto, cobriu o rosto com as mãos trêmulas e chorou de sacudir. Era o choro da audácia impotente: "Meu Deus, isso não pode acontecer. Preciso assumir"!
Foi no dia seguinte. Em 31 de janeiro, o presidente era JK. Assumiu, mas só depois de Café Filho sumir, também empichado. O cruzador "Tamandaré", comandado pelo pequenininho Penna Boto, levou três tiros de festim do Forte de Copacabana e seguiu para São Paulo, onde Jânio não quis nada com eles e voltou de rabo (popa e proa) entre as pernas.
Lacerda foi direto para a embaixada de Cuba, asilado pelo ditador Fulgencio Batista. A tentativa de golpe não conseguira apagar os milhões de votos de Juscelino. Mais uma vez o golpe de 50, 54 e 55 fora adiado para 64. Terça, "O Globo" informava que "o Instituto Histórico e Geográfico homenageou (sic) o almirante Penna Boto pelos 53 anos do bombardeio (sic) sofrido pelo cruzador Tamandaré, em 55, ao tentar sair da Baía de Guanabara".
Galeonata
O governador itinerante Sergio Cabral continua insistindo em "vender" o aeroporto Tom Jobim, o Galeão. Ninguém sabe ainda qual é a "carga" dessa decolagem. Mas o presidente da Infraero, Sergio Gaudenzi, em almoço com jornalistas, segunda-feira, no Santos Dumont, abriu o jogo:
- O Brasil tem mais de 60 aeroportos. Só 10 dão lucro: Congonhas, Santos Dumont, Guarulhos, Campinas, Confins, Manaus, Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre. Os demais são deficitários. Mas o País precisa de aeroportos de norte a sul, por necessidade de comunicação e de segurança nacional. Quem vai querer os deficitários? Quem vai ficar com Tefé?
Já avisei ao ministro Jobim. Sou a favor de abrir o capital da Infraero até 49%, como a Petrobras. Mas, se quiserem privatizar, vender, chamem outro.
Sebastião Nery
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