quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Para analistas, independência do BC foi maior contribuição de Meirelles

Henrique Meirelles confirmou nesta quarta que deixa o BC no fim do ano.
Desafio para o próximo presidente é lidar com as pressões do governo.

Anay Cury Do G1, em São Paulo  
 
 
  
Presidente mais longevo do Banco Central, Henrique Meirelles deixa oito anos de gestão positiva, na avaliação de economistas ouvidos pelo G1. A adoção do sistema de metas de inflação e a independência da autoridade monetária frente ao governo foram apontados como as principais contribuições de Meirelles, que confirmou, nesta quarta-feira (24), sua saída do comando do BC.
Para a economista-chefe da Rosemberg Associados, Thaís Zara, a melhora na distribuição de renda verifcada no país nos últimos anos, por exemplo, foi possível em virtude da política de controle inflacionário adotada pelo Banco Central, na gestão de Meirelles.   
"Espero que o próximo presidente mantenha  o que foi feito por Meirelles nesses anos. Temos alguma ideia de como será, mas só teremos certeza no começo do próximo ano", disse a economista.
Avaliação semelhante foi feita pelo professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), Fabio Kanczuk, que aponta como principal legado de Meirelles à economia do país a independência da autoridade monetária em relação às pressões do governo.
"De forma geral, ele [Meirelles] foi super bem. Conseguiu administrar pressões políticas para reduzir juros, entrou em contato com presidentes de bancos centrais do exterior, com gente muito especializada. Ele 'ouvia' muito, e isso é sempre muito bom", citou. O professor também indica como mérito do presidente do BC o controle dos juros e da inflação durante a crise financeira mundial.
Ele sai desse mandato vitorioso e reconhecido pela excelência com a qual ele desempenhou sua função"
Myriam Lundi, da FGV
No entanto, Kanczuk faz crítica aos últimos meses da gestão de Meirelles. "Tive a impressão de que o Banco Central ficou mais fragilizado desde quando começaram boatos de que ele poderia sair antes do BC para uma possível candidatura...Talvez os interesses particulares dele tenham, de alguma forma, interferido no mandato."
A independência com a qual comandou a autoridade monestária também é, para a professora de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Myriam Lund, a principal contribuição de Meirelles. "Ele sai desse mandato vitorioso e reconhecido pela excelência com a qual desempenhou sua função, pela estratégia de sua gestão, toda voltada para controlar a inflação", afirmou.
Próximo presidenteA presidente eleita Dilma Rousseff deverá anunciar ainda nesta quarta (24) os primeiros nomes do ministério do futuro governo. Para a presidência do Banco Central está cotado o nome de  Alexandre Tombini, atual diretor de Normas da autoridade monetária.
O mercado reconhece sua competência, porém, segue atento ao fato de Tombini ser funcionário de carreira, o que poderia ser tornar um entrave ao principal legado de Meirelles. "Ao contrário do Meirelles, Tombini é economista, sabe como funciona a política monetária. Mas como ele é funcionário de carreira há muitos anos, não sabemos como ele vai reagir às pressões do governo", disse Kanczuk.
"Ele [Tombini] é extremamente competente. Mas a dúvida é como ele vai se portar na presidência. Hoje, as apreensões são grandes do mercado. Mas pelo que conheço do Tombini, ele não deverá baixar a cabeça", comentou a professora da FGV.

sábado, 13 de novembro de 2010

Campanhas caras mantêm veteranos na ALMS; saiba quanto gastou cada deputado eleito


Valdelice Bonifácio
Divulgação


Para continuar na cadeira de deputado estadual, nomes veteranos da Assembleia Legislativa gastaram valores acima de meio milhão de reais em suas campanhas neste ano, segundo declaração de despesas prestadas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Entre os parlamentares que acumulam mais de quatro mandatos houve quem gastou mais de R$ 1 milhão em busca da reeleição. Juntas as 24 campanhas vitoriosas, gastaram cerca de R$ 17 milhões.
Recordista nacional em mandatos no Parlamento Estadual, Londres Machado (PR) gastou R$ 1,2 milhão para obter 30.266 votos e com isso garantir sua 11ª eleição à Assembleia.
Ele informou ao TSE ter investido em recursos próprios na campanha R$ 500 mil. Também recebeu ajuda do governador André Puccinelli (PMDB), de Edson Girotto, eleito deputado federal, de construtoras, como a Camargo Corrêa, pessoas físicas, entre outras fontes.
Onevan de Matos (PSDB) conquistou seu sétimo com gastos de R$ 1,1 milhão. Ele obteve 36.962 votos. Onevan também investiu recursos próprios e teve a ajuda do governador André Puccinelli e de candidatos a deputado federal e senador.
Um pouco abaixo dos gastos milionários, mas com custos significativos aparece Zé Teixeira (DEM) que gastou R$ 824 mil e foi o vice-campeão de votos do ano com 41.991 votos. A partir de janeiro de 2011, ele estará exercendo seu quarto mandato.
Com valor próximo aparece Paulo Corrêa (PR). Ele foi reeleito também para seu quinto mandato com 35.330 votos e gastos de R$ 832 mil. Colega de partido de Corrêa, o deputado Antônio Carlos Arroyo (PR) também foi reeleito para o quinto mandato. Ele investiu R$ 687 mil para obter 28.489 votos.
O atual presidente da Assembleia Jerson Domingos (PMDB) gastou R$ 589 mil e foi reeleito com 38.204 votos para o quinto mandato. Reportagem divulgada anteriormente pelo Midiamax apontou que a campanha de Jerson recebeu doações da irmã Reni Domingos e do governador André Puccinelli (PMDB). Veja na notícia relacionada.
Já Maurício Picarelli (PMDB) investiu R$ 573 mil para obter 28.277 votos e garantir seu sétimo mandato na Assembleia. Também em busca do sétimo mandato estava o deputado Ary Rigo (PSDB), único dos veteranos que não se reelegeu. Ele foi pivô de escândalo político durante a campanha eleitoral que lhe fez perder votos.
Campanhas milionárias
Na lista de deputados que investiram mais de um milhão em suas campanhas eleitorais estão novatos como o ex-prefeito de Aquidauana Felipe Orro (PDT) eleito para o primeiro mandato. Ele declarou ao TSE ter gasto R$ 1,3 milhão na campanha eleitoral sendo o campeão de despesas do ano.
Entre os financiadores dele estão três políticos: o pai Roberto Orro, o senador Delcídio do Amaral (PT) e o deputado federal Vander Loubet (PT). Felipe Orro também declarou ter investido R$ 405.534,00 de recursos próprios.
Carlos Marun (PMDB) foi outro nome a gastar uma fortuna na eleição. Foram R$ 1,2 milhão, segundo a declaração feita ao TSE. Ele obteve 40.163 votos. Marun também contou com ajuda de André Puccinelli, de Waldemir Moka e de empresas de setores variados.
O ex-prefeito de Jardim, Márcio Monteiro (PSDB), gastou pouco mais de R$ 1 milhão em sua campanha e obteve 29.052 votos. Ele também foi ajudado por André Puccinelli, por Edson Giroto, Reinaldo Azambuja, Waldemir Moka, empresas e pessoas físicas.
Valor parecido investiu Eduardo Rocha (PMDB), marido da vice-governadora eleita Simone Tebet, também peemedebista. Os gastos de pouco mais R$ 1 milhão renderam-lhe 25.428 votos com os quais conquistou seu primeiro mandato no Parlamento estadual. Eduardo foi ajudado financeiramente pela família da esposa, pelo governador, por Edson Giroto, por Fábio Trad (PMDB), por Waldemir Moka entre outros.
Menos de R$ 1 milhão
Outro novato que também investiu valores significativos foi Lauro Davi (PSB) ex-presidente da Cassems (Caixa de Assistência aos Servidores de Mato Grosso do Sul). A campanha dele custou R$ 739 mil e conquistou 18.244 votos.
Dione Hashioka (PSDB) foi reeleita para seu segundo mandato com 24.636 votos. O investimento foi de R$ 743 mil. O deputado Paulo Duarte (PT) gastou R$ 572 mil e foi reeleito com 40.991 votos. Um pouco menos investiu a novata Mara Caseiro (PTdoB) ex-prefeita de Eldorado. Foram R$ 533 mil para conquistar 19.888 votos.
O vereador petista Cabo Almi conquistou vaga na Assembleia graças aos 20.604 votos que recebeu. O valor da campanha foi de R$ 468 mil. Seu colega na Câmara de Campo Grande, o vereador Alcides Bernal (PP) se elegeu para a Assembleia com 26.159 votos. Em sua declaração ao TSE consta despesas de campanha no valor de R$ 344 mil. O ex-prefeito de Paranaíba e hoje suplente de deputado estadual Diogo Tita (PPS) conquistou vaga definitiva na Assembleia com 20.277 votos. Sua campanha custou R$ 426 mil.
‘Gastos modestos’
Outros nomes também conquistaram cadeiras na Assembleia com gastos modestos na comparação com as campanhas milionárias. Pedro Kemp (PT) foi reeleito para seu quarto mandato com 21.779 e declarou ter investido R$ 192 mil.
George Takimoto (PSL) gastou R$ 160 mil e obteve 23.646 votos. O ex-prefeito de Dourados Laerte Tetila (PT) conquistou 21.781 votos com campanha no valor de R$ 292,2 mil.
Quem menos gastou, segundo a declaração oficial, foi Marquinhos Trad (PMDB) com o valor de R$ 134,824.82. Mesmo assim, sagrou-se campeão nas urnas com 56.287 votos.
Pivô de escândalo ficou na suplência
Ary Rigo gastou R$ 1,095 milhão e obteve 20.581. Não se reelegeu, mas garantiu a terceira suplência da coligação “Amor, Trabalho e Fé”. Em 2006, Rigo reelegeu-se com 34.767 votos sendo o sexto mais votada da eleição, gastando R$ 752.717,00.
Pouco antes das eleições, ele foi flagrado em vídeo relatando um suposto esquema de partilha de dinheiro público entre membros dos três poderes de MS. Desde que as imagens foram divulgadas, ele mantém o argumento de que as falas foram editadas distorcendo o sentido de suas palavras. Ele afirma que nunca participou de negociação ilegal.
Aos 63 anos, Rigo se elegeu deputado pela primeira vez em 1979 e, desde então, havia vencido as seis eleições que disputou - cinco para deputado estadual e uma para vice-governador.

sábado, 6 de novembro de 2010

Dilma deve tirar Meirelles do BC para reduzir juros logo no início do governo

Ao contrário de Lula, que deu carta branca às medidas de contenção de inflação do Banco Central, presidente eleita quer ser avalista de política mais voltada ao crescimento econômico e estímulo ao setor privado, incluindo micro e pequenas empresas

06 de novembro de 2010 | 17h 57


João Domingos, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Embora avalie que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi importante para sustentar a política de combate à inflação do governo Lula e certeiro nas medidas de contenção dos efeitos da crise econômica mundial de 2008 e 2009 no Brasil, a presidente eleita, Dilma Rousseff, tende a não aproveitá-lo no posto.

É certo que Dilma vai centralizar em torno de si todas as ações econômicas do início do governo, disse ao Estado um de seus mais importantes colaboradores.

Pretende, com isso, alcançar dois objetivos: forçar a redução nas taxas de juros logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) e mostrar que, ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela terá o controle de todos os setores do governo, a começar pela economia.

Tanto é assim que o primeiro bloco de auxiliares a ser anunciado será o da equipe econômica.

Com a centralização e a pressão explícita para que os juros baixem - o que Lula nunca exerceu em relação ao Banco Central -, Meirelles ficará numa posição desconfortável, pois sua política de combate à inflação tem sido sempre a de, por absoluta prevenção, manter os juros altos.

A própria Dilma se garante como avalista da estabilidade econômica. Em entrevista ao SBT, na terça-feira à noite, ela avisou que fará a centralização.

"Não serão pessoas que serão responsáveis por isso", afirmou, referindo-se ao tripé formado por metas de inflação, câmbio flutuante e contas equilibradas.

"Sou eu a responsável. E como responsável, eu asseguro: seja quem esteja à frente do cargo, eu assegurarei no País a questão da estabilidade econômica."

Embaixada

Uma solução para Meirelles - e ele já se mostrou simpático à ideia - seria nomeá-lo embaixador do Brasil em Washington.

É um nome com muito trânsito nos meios financeiros e governamentais, atributos essenciais para a interlocução de um governo Dilma que ainda não tomou posse mas já faz coro e, ao lado de Lula, acusa os Estados Unidos de, junto com a China, promoverem uma "guerra cambial" no mundo.

O PMDB, ao qual Meirelles é filiado, ainda tem esperanças de emplacá-lo no Ministério da Fazenda ou no dos Transportes.

Mas Dilma tem sido aconselhada a manter Guido Mantega, decisão que contaria com a simpatia de Lula.

E o Ministério dos Transportes é um feudo do PR, embora o PMDB esteja, numa espécie de escambo político, tentando trocá-lo pela Agricultura.

Conforme um integrante do governo muito próximo de Dilma, ela quer lotar o setor econômico na Esplanada dos Ministérios com "defensores de ações desenvolvimentistas" - como ela.

A presidente eleita acredita que, assim como ocorreu na gestão Lula, principalmente depois da crise econômica mundial, o governo tem entre os seus papéis fundamentais fazer a indução para o desenvolvimento e o crescimento econômico.

Na visão de Dilma, exposta ao longo de conversas mantidas na campanha, será preciso reduzir os juros para "contaminar o setor privado" e incentivá-lo a investir cada vez mais.

O plano estratégico prevê alcançar a meta de taxa real de 2% de juros (descontada a inflação) em 2014.

Ela defende ainda a desoneração da folha de pagamentos e investimentos muito fortes nas micro e pequenas empresas.

Para tanto, Dilma pretende elevar o limite de enquadramento de empresas no Simples Nacional. "Esse foi um dos melhores modelos: aumentamos a arrecadação, o grau de formalização da economia", disse ela na entrevista ao SBT. "Pretendo aumentar o limite de enquadramento."

Dessa forma, explicou, mais empresas poderão se beneficiar do sistema tributário simplificado. Ela, porém, não revelou qual seria o novo limite.

Atualmente, são consideradas microempresas passíveis de inscrição no Simples aquelas que têm faturamento bruto de até R$ 240 mil ao ano.

O programa também admite empresas de médio porte com faturamento de até R$ 2,4 milhões.

Hoje, há cerca de 3,9 milhões de pessoas jurídicas inscritas no programa. Também está em análise a elevação do limite de enquadramento dos microempreendedores individuais (MEI), hoje em R$ 36 mil ao ano.

Pasta

Dilma revelou durante a campanha ter "vontade" de criar um ministério específico para as micro, pequenas e médias empresas.

O nome mais cotado para essa nova pasta é o de Alessandro Teixeira, atual presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um dos coordenadores da sua campanha presidencial.

Ela acredita que será possível fundir ministérios, fazendo com que a estrutura de governo fique do tamanho da atual, com 35 ministros.

O ideal seria reduzir, mas Dilma não vê como atender à base partidária governista - que tem uma dezena de legendas - promovendo uma lipoaspiração na Esplanada.